Existe uma linha de pensamento que o computador do tipo desktop está se tornando obsoleto, mas na verdade o monitor conectado a ele é quem está. Quanto mais se usa dispositivos móveis com tela integrada como notebooks, tablets e smartphones, menos se presta atenção aos monitores sobre as mesas.
Este fato já foi previsto pelos fabricantes que em contrapartida vêm se preparando para lançar o monitor futurista, que além de apresentar um painel LCD com sistema de iluminação e alguns circuitos para tudo funcionar, ele é inteligente, conectado com a web e até portátil. Têm a aparência de um tablet, com processador, sistema operacional como o do Android, tela sensível ao toque e com a possibilidade de armazenamento.
Há quem pergunte qual seria a diferença entre um monitor inteligente (chamado de “Smart Monitor”) e o desktop “All-In-One” (modelo de computador que dispensa o gabinete e é tudo integrado ao próprio monitor), como também entre um monitor portátil e um tablet. Na realidade, hoje em dia, são poucas, e o que vem ocorrendo é que na medida em que os componentes vão ficando cada vez menores e mais modulares, abrem-se caminhos para os fabricantes experimentarem novos conceitos.
A expectativa dos fabricantes é que com o passar do tempo os monitores inteligentes venham substituir o tradicional PC, onde poderá servir como um ambiente de computação casual e bem mais em conta para navegar na internet e rodar jogos simples. A desvantagem será que ao se conectar a um notebook ou tablet, o monitor se tornará “burro” ao toque de um botão, pois quem assumirá o controle será o processador e o sistema operacional do dispositivo.
Com a tendência dos processadores se tornarem bem mais baratos, os monitores inteligentes tomarão o lugar dos antigos.
Para Rhoda Alexander, analista do mercado de monitores da ISF iSuppli, empresa de consultoria sobre consumo de eletrônicos, a categoria de monitores inteligentes é “experimental’ e “indefinida”, devido a comparação entre tablets e modelos All-In-One.
Alexander comenta que desenvolver um monitor inteligente é uma evolução natural do mercado de monitores e complementa, “Em vez de se sentar e esperar para ver o que vai acontecer no mercado de monitores, os fabricantes estão tentando aumentar sua participação para se tornar mais competitivos” e “Eles irão tentar várias abordagens nesse mercado”, assim como fizeram os fabricantes de tablets.
Ainda segundo Alexander “Esta é a grande lição do mercado de tablets” e “Se você criar um cenário de uso atraente, o produto vende como água. Se não fizer isso, irá acumular poeira nas prateleiras”.
Segundo a NPD DisplaySearch, líder mundial em pesquisa de mercado sobre monitores e consultoria, atualmente o mercado de monitores LCD para desktops vem caindo ano a ano e consequentemente os preços também, que é vantajoso para o consumidor e um problema para os fabricantes que acabam perdendo seus lucros.
Com o intuito de driblar este problema, os fabricantes de monitores estão seguindo o caminho aberto pelas novas TVs que possuem conexão com a internet através de navegador e estão repletas de apps e serviços de streaming de conteúdo.
De acordo com a Deloitte, empresa de consultoria, dezenas de milhares de TVs conectadas serão vendidas em todo o mundo em 2013, e que a base instalada de aparelhos com conectividade integrada irá exceder os 100 milhões, além de acreditar que será difícil encontrar uma TV de alta-definição sem possuir qualquer conectividade. E a Ofcom, agência reguladora no Reino Unido, estimou que cerca de 20% das TVs vendidas para os britânicos no primeiro trimestre de 2012 tinha conexão com web.
A Viewsonic, fabricante de monitores, lançou há um ano atrás um monitor de LCD de 22 polegadas, modelo VSD220, com resolução de 1920 x 1080 pixels ao preço nos Estados Unidos em torno de US$ 362, chegando a ser quase o dobro de seu concorrente o ASUS VS228H-P, um monitor LCD “burro” de 22 polegadas com tamanho e resolução similares, porém no modelo da Viewsonic contendo um processador OMAP da Texas Instruments, Bluetooth, Wi-Fi, Ethernet, três portas USB e uma tela sensível ao toque, além de rodar o sistema operacional Android 4.0. O modelo VSD220 é capaz de alternar entre o Android ou uma conexão HDMI a um PC com Windows com o toque de um botão.
Kenneth Mau, gerente de marketing de produto na Viewsonic diz que “A idéia por trás do VSD220 começou com uma mudança no comportamento dos nossos consumidores e a migração dos PCs para os smartphones e os tablets”. Ainda segundo Mau, “milhares” de monitores VSD220 foram vendidos até hoje. “O comportamento dos consumidores mudou de ‘computar’ para ‘consumir’”.
No início o VSD220 era incompatível com a loja Google Play, ou seja, para baixar apps como o Netflix era preciso acessar a loja da Amazon, o que era uma inconveniência. Não era possível rodar alguns apps populares, os que rodavam apresentavam imagem rotacionada em 90 graus, e outro apps tinham uma aparência estranha ou eram meramente incompatíveis. Já as TVs conectadas com um número limitado de apps para streaming de vídeo otimizado para grandes telas não tiveram os mesmos problemas.
“Nem os usuários nem os desenvolvedores de apps Android estão acostumados a rodar o sistema em uma tela de 22 polegadas”, comenta Mau.
Para o próximo mês, a Viewsonic pretende lançar uma versão corporativa de monitor inteligente com Android 4.3, o modelo VSD221, que disponibiliza recursos de gerenciamento com a possibilidade de bloquear o acesso à loja de aplicativos Google Play. Outro modelo, o VSD221, terá uma versão com tela de 24 polegadas e equipada com um processador Nvidia Tegra 3. Mau comenta que a Viewsonic está trabalhando em conjunto com desenvolvedores assim como com o próprio Google para aprimorar os apps a fim de se tornarem mais compatíveis com grandes telas. Os dois modelos, VSD221 e VSD241, possuem um sensor giroscópico que informa ao app se ele deve funcionar no modo paisagem ou retrato.
A BenQ, uma concorrente da Viewsonic, para resolver os problemas, encontrou duas soluções: projetar os próprios apps e focar na navegação web. Apresentou seu próprio monitor inteligente que ainda não está disponível para venda nos Estados Unidos, o CT2200, que conta com sistema operacional Android 4.0.4 e uma tela de 22,5 polegadas com resolução de 1920 x 1080 pixels, um processador ARM Cortex-A9 dual-core, 8 GB de memória Flash, Wi-Fi 802.11 b/g/n, duas portas USB, um slot para cartões microSD e uma webcam de 1.2 MP.
A BenQ está sendo forçada a repensar o conceito de um monitor com produtos otimizados, seja em produtos para jogos como Starcraft ou pesquisando formas de adicionar inteligência a uma tela tradicional, diz Bob Wudeck, executivo na área de estratégia de mercado e desenvolvimento de negócios da BenQ.
“O modelo tradicional é uma tela que pode ser plugada a um desktop ou notebook”, comenta Wudeck. “Não acreditamos que ele continuará assim. Acreditamos que no futuro você terá mais conteúdo multimídia em seu smartphone, e irá compartilhar mais conteúdo de seu smartphone do que de um computador desktop”, complementa. “E podemos desenvolver um produto baseado nesse conceito”.
Os recursos disponíveis no modelo CT2200 da BenQ são bem semelhantes a um PC tradicional, onde permite enviar fotos sem fio através da rede para a memória interna, ou armazenada na nuvem, serviço oferecido pela própria empresa. Há possibilidade de compartilhar calendário, mensagens e fotos, além de mostrar feeds do Twitter e Facebook, através do app “Family Board”, que faz o navegador ocupar toda a tela independente do tamanho dela.
“Se você pensar sobre a tela e a forma como se comunica com um dispositivo móvel, é possível transformar um monitor em uma gigantesca extensão de um tablet”, diz Wudeck.
De acordo com o analista do mercado de telas da NPD DisplaySearch, Todd Fender, os monitores inteligentes poderão encontrar um espaço no ecossistema existente de dispositivos conectados, se os fabricantes conseguirem transmitir aos consumidores de forma clara todas as suas utilidades.
“Acredito que atualmente há pouca educação no mercado sobre o que é um verdadeiro monitor “inteligente” e o que ele pode fazer”, explica Fender. “Fabricantes de tablets, smartphones e notebooks não estão explicando como seus aparelhos podem ser usados em conjunto com outros periféricos, como um monitor inteligente. Atualmente eles são usados separadamente, mas há vantagens em usar os produtos em conjunto. Por exemplo, os monitores inteligentes podem ter resolução e área útil maiores, então assistir Netflix via streaming em um monitor conectado ao smartphone pode ser uma experiência mais agradável”.
Apesar de com o tempo os monitores inteligentes ganharem mais recursos, seus preços ainda continuarão altos. Os fabricantes dos monitores possuem grande diversidade de processadores ARM disponíveis, e a Intel pretende lançar uma geração de processadores Atom de codinome Bay Trail que, de acordo com os executivos, poderá equipar tablets que custarão em torno de US$ 150 e sinalizam não se preocupar com o mercado dos monitores inteligentes e sim no mercado de tablets e notebooks conversíveis.
Segundo Kenneth Mau, da Viewsonic, nos próximos dois anos os monitores “burros” ainda estarão sobre as mesas, mas com telas maiores, onde as atuais com tamanho entre 17 e 19 polegadas passarão para a ser de 24 e 27 polegadas com resolução 4k.
Atualmente a diferença comparada entre um tablet em um suporte, um PC all-in-one, um monitor inteligente, um tablet 2 em 1 (portátil que tenta combinar as melhores características dos notebooks, como um teclado confortável, com a portabilidade, ergonomia e agilidade dos tablets) ou conversível com tela grande (máquinas que tentam misturar as características mais atraentes de um tablet com a versatilidade de um notebook) já é bem pequena que com o decorrer do tempo pode desaparecer. E por ter durante anos a tecnologia doméstica dado ênfase ao PC Desktop, os fabricantes de monitores almejam que seus produtos tomem maior destaque e passem a se tornar o centro da computação pessoal.