Temos disponíveis na internet duas versões de protocolo de comunicação IP (internet protocol), que é o responsável por endereçar e encaminhar os pacotes que trafegam pela rede mundial de computadores: o IPv4, que é a versão atual utilizada na grande maioria das situações, e o IPv6, a nova versão, que prevê um número consideravelmente superior de endereços.
Não é possível saber por quanto tempo a quantidade de endereços IPv4 continuarão a estar disponíveis. Gestores de TI (Tecnologia da Informação) não entendem o motivo de se gastar tempo e dinheiro em desenvolvimento do IPv6 com grande antecedência, fato que contraria a orientação dos gestores de tabelas de endereços IPv4 no mundo para não deixar a migração para última hora, pois poderá impactar na necessidade de se fazer investimentos em caráter urgente gerando contratempos na operação dos negócios.
Será necessário que até empresas de pequeno porte estejam preparadas para o IPv6, tanto em termos de hardware como em software, para garantir que tarefas essenciais dependentes das conexões com a internet não parem e nem fiquem lentas. Será importante planejar já para não precisar comprar soluções de última hora a qualquer preço.
Para migração ao IPv6, muitos dos recursos do IPv4 ainda serão aplicados, mas alguns outros não, como por exemplo o NAT (network address translation), que faz a tradução do endereço IP e portas TCP da rede local para a internet: não será mais utilizado o que facilitará o projeto e o gerenciamento das redes permitindo suporte a novas aplicações. Sem o NAT criar programas de computadores que usam a internet para se comunicar ficará mais fácil, assim como aplicações de vídeo conferência e voz sobre IP (VOIP) além de mais simples obterão melhores funcionalidades. Talvez sejam necessárias trocas de hardwares e atualizações de softwares, fatos esses que envolvem custos, incluindo o treinamento da equipe de TI.
Operadoras de telecomunicações brasileiras já operam com IPv6, porém muitas delas ainda não oferecem o novo protocolo como item em seus portfólios de soluções, e alguns provedores de internet já estão fazendo testes de campo em algumas regiões.
Para ter a oportunidade de testar o IPv6 é possível fazê-lo através de um serviço de túneis gratuito, citando como exemplo os que são recomendados pelo NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR): SixXS (à partir do Brasil, é o que alcança melhor resultado), Freenet 6 (gogo6) e Tunnel Broker (Hurricane Electric).
É possível usar túneis IPv4 para IPv6 e fornecer acesso à internet IPv6, para isso a melhor solução é ter um handoff IPv6 nativo (processo de troca de ponto de acesso conectado ao núcleo da rede), uma vez que o IPv6 foi planejado para trabalhar em paralelo com o IPv4, e de forma separada, pode-se implementar o IPv6 provisoriamente como teste para tornar o aprendizado mais fácil.
Ainda são poucos os dispositivos de rede nas empresas que suportam o IPv6, contudo o suporte básico para o endereçamento IPv6 em hardware e sistemas operacionais de rede não são as únicas preocupações. Muitos aplicativos de empresas são escritos usando APIs (Application Programming Interface, em português Interface de Programação de Aplicativos) antigas que demonstram não conflitar com o novo IP, embora possa existir impacto relativamente pequeno, como por exemplo: para o aplicativo funcionar em apenas uma rede interna, onde a conservação do espaço de endereços IPv4 normalmente não é um problema, pode ser muito mais grave se o aplicativo precisar atender as solicitações da web ou fazer referência a esses endereços internamente.
Nos sistemas operacionais Windows, Linux e MacOs o IPv6 já vem habilitado, e caso necessite ativá-lo, você pode obter informações através dos respectivos links: Windows – http://ipv6.br/habilitando-windows, MacOS – http://ipv6.br/habilitando-mac e Linux – http://ipv6.br/habilitando-linux.
Há quem faça comparações da situação do IPv6 com a que ocorreu com o bug do milênio, próximo ao ano 2000. Para que a transição do IPv6 aconteça sem problemas serão necessários os mesmos esforços que fizeram com que o bug do milênio não ocorresse, embora o esgotamento do IPv4 não se dará de uma só vez e não existam prazos determinados para isso. De qualquer modo, há já um indicador que aponta o estoque do IPv4 como terminado na IANA (Internet Assigned Numbers Authority, em português Autoridade para Atribuição de Números da Internet), que atribuí os “números” IP na internet.
A estimativa para o esgotamento dos estoques dos endereços de internet se dará em momentos diferentes em cada região, e na nossa calcula-se que aconteça em meados de 2014. Algumas necessidades de rede poderão deixar de ser atendida mesmo que haja estoque, por exemplo, uma rede poderá demandar de um bloco de faixa de IPs e no estoque estejam disponíveis apenas blocos pequenos. Estão sendo discutidas políticas de distribuição dos endereços remanescentes IPv4 e dependendo das decisões a data do término poderá ser alterada.
Para não perder o controle e gerenciamento da rede enquanto ainda não se sabe da data definitiva, é importante já tomar algumas ações para analisar o protocolo e atender as necessidades de corporação como levar a questão ao conhecimento de todos, treinar a área técnica e incentivar experimentos com o IPv6, estabelecer normas para a aquisição de novos hardwares e softwares que deverão suportar o IPv6 e suas funcionalidades.
A adoção do IPv6 impactará diretamente na infraestrutura de TI em empresas que oferecem serviços e produtos diretamente na rede, ou as que colocam parte de suas estruturas na nuvem, ou àquelas que usam a rede apenas para fonte de informações.
Em evento realizado pelo NIC.br em 13 de agosto passado para debater como a implantação do protocolo IPv6 impactará o dia a dia da TI das empresas e trocar experiências com empresários e executivos, Antonio Moreiras, gerente do projeto IPv6.br comentou que “Uma parte dos gestores de TI tem simplesmente ignorado a questão, o que pode gerar problemas e gastos desnecessários no futuro. Este evento tem o objetivo de promover o diálogo com os gestores sobre os pontos de atenção na fase de coexistência e transição entre IPv4 e IPv6”.
Moreiras também ressaltou a importância de planejar a fase de transição: “Ao comprar novos equipamentos, softwares, ou contratar serviços, é preciso que os responsáveis pela gestão de TI de uma empresa considerem o suporte à nova versão do protocolo IP”, e concluí “Como há também implicações na área de segurança e no funcionamento dos websites e outros serviços disponíveis diretamente na Internet, em alguns casos é necessário considerar ações urgentes”.